As bactérias presentes na boca de todos os pacientes podem facilmente ganhar a circulação sanguínea ou, suspensas em gotículas de saliva, chegarem aos pulmões. Na circulação sanguínea, podem infectar qualquer órgão e, nos pulmões, causam pneumonia. E tudo isso causa muitas mortes nos hospitais, as quais poderiam ser evitadas se os médicos tivessem consciência da importância dos cuidados orais para os pacientes internados. Somente o Cirurgião-Dentista habilitado tem o conhecimento e a habilidade necessária para realizar o controle bacteriano da cavidade oral dos pacientes internados. Isso reduz o tempo de internação, diminui custos hospitalares e, principalmente, salva vidas.
Cogita-se que, durante a totalidade de horas de um curso de medicina, o aluno chega a ter apenas uma hora e meia de aula sobre a cavidade bucal e suas implicações. Sim, apenas isso, enquanto um Cirurgião-Dentista estuda o mesmo tema durante quatro anos, fora os anos adicionais de especialização. Nesse sentido, percebe-se que o profissional capaz de diagnosticar e tratar quaisquer problemas orais, sejam infecciosos ou de qualquer outra natureza, é unicamente o Cirurgião-Dentista.
Numa cirurgia cardíaca, como a boca pode influenciar na recuperação do paciente?
Dr. Eduardo Esber: As cirurgias cardíacas devem obrigatoriamente ser realizadas num organismo livre de bactérias na circulação sanguínea, caso contrário essas bactérias irão se instalar na área operada, vindo a causar disfunção do órgão e, não raro, a morte do paciente. Isso é fato inegável e os cirurgiões que possuem esse conhecimento jamais operam um paciente sem que ele tenha passado por uma avaliação prévia com um Cirurgião-Dentista e este tenha constatado que não existem infecções orais, seja um abscesso dentário crônico, seja uma periodontite ou seja um mero acúmulo de saburra lingual, os quais podem ser considerados locais de acúmulo de bactérias, as quais sempre também estarão presentes na circulação sanguínea podendo se disseminar para o coração.
Por outro lado, muitos cirurgiões possuem o conhecimento de que qualquer infecção oral pode prejudicar a recuperação do paciente, inclusive levá-lo à morte, mas mesmo assim realizam uma cirurgia cardíaca. Nesses casos, tentam mascarar o problema administrando fortes antibióticos antes, durante e depois da cirurgia, o que temporariamente segura o quadro infeccioso, porém, após a alta do paciente, a administração antibiótica cessa e, em poucos dias, aquela infecção oral que não foi tratada previamente à cirurgia começa a agir, enviando bactérias para a circulação sanguínea e infectando a área cardíaca que foi operada, causando complicações e podendo levar à morte.
E no caso dos transplantes de órgãos, também existe risco?
Dr. Eduardo Esber: Nos pacientes transplantados, o risco é muito maior, pois após o transplante o paciente receberá medicações imunossupressoras que afetam o seu sistema imunológico, diminuindo as defesas de seu organismo para que esse próprio organismo não reconheça o orgão transplantado como algo estranho e comece a atacá-lo. Com as defesas do organismo diminuídas, se houver qualquer infecção oral que estava anteriormente em estado crônico ou em silêncio clínico, esta vai se manifestar, vai haver intensa proliferação bacteriana e o paciente poderá evoluir para um quadro séptico e morte.